Quanto os artistas são pagos no Spotify? – Loud & Clear

par Michael Murtagh
Quanto os artistas são pagos no Spotify?
Sumário :

 

1. Loud & Clear – Artistas e pagamento no Spotify

As críticas à indústria de streaming estão pipocando nas redes sociais este ano. Basta pesquisar #BrokenRecord no Twitter para ver a reação de artistas frustrados e profissionais da indústria contra o que eles consideram uma indústria injusta e exploradora – o streaming. Grande parte de sua crítica é direcionada ao Spotify, o maior player do setor, que representa 20% da receita de toda a indústria de música gravada em 2020. Esta é uma estatística enorme.

A crítica não vem apenas de artistas independentes, mas também de pesos pesados ​​da indústria como Mick Jagger, Ed O’Brien do Radiohead, Tom Jones e Nile Rodgers, só para citar alguns. A pressão sobre o governo para responder a este movimento culminou em um relatório de 6 meses do departamento de Digital, Media, Culture & Sport do governo do Reino Unido cujas conclusões estavam muito alinhadas com os objetivos deste movimento, ou seja, abordar a mísera parcela de royalties que ficam para os artistas de plataformas de streaming – as gravadoras sediadas no Reino Unido registraram receita de cerca de £736 milhões em 2020, com os artistas responsáveis ​​​​pela criação das músicas recebendo cerca de 16% disto.

Essa injustiça emana das próprias plataformas de streaming ou é um problema mais abaixo do filtro? Loud & Clear levanta o véu.

Loud & Clear é uma iniciativa lançada recentemente pelo Spotify para lançar alguma luz sobre a economia do streaming. É uma plataforma online, disponível gratuitamente para todos, onde você pode visualizar estatísticas sobre royalties, pagamentos, tipos de artistas e o fluxo de dinheiro através do Spotify. O Spotify afirmou que sente que ficou muito quieto sobre esse assunto e gostaria de fornecer uma base valiosa para uma conversa construtiva sobre o assunto.

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2. Como o dinheiro entra no Spotify?

Para entender grande parte das estatísticas sobre streaming, precisamos entender como essa receita é gerada e como ela sai do Spotify. As duas principais fontes de renda do Spotify são o nível gratuito, financiado por anúncios, e o nível premium, financiado por pagamentos regulares feitos pelos usuários na forma de assinatura .

O Spotify fica com cerca de 1/3 do valor gerado em sua plataforma, sendo os outros 2/3 pagos como royalties aos detentores dos direitos, e esse é um ponto importante. O Spotify nem sempre paga diretamente aos artistas. Em vez disso, eles pagam aos detentores de direitos – que podem ser gravadoras, artistas, distribuidores ou outras agências. O titular dos direitos de uma gravação é determinado em um contrato entre uma organização (gravadora, distribuidora, editora…) e um artista. Para artistas independentes, que geralmente trabalham sem gravadora, o Spotify provavelmente pagará ao seu distribuidor, com o distribuidor pagando por sua vez aos artistas. Pode-se adicionar uma gravadora à mistura, caso em que eles provavelmente também receberiam um pagamento de seu distribuidor e, por sua vez, pagariam aos artistas de acordo com o contrato.

Já se pode imaginar que essa é outra possível fonte de injustiça promovida por essas agências terceirizadas – contratos desleais entre agências e artistas. De fato, os parlamentares criticaram as três principais gravadoras após o relatório devido a falta de clareza, e descreveram um chefe de gravadora como “vivendo no mundo da lua” depois de sugerir que os artistas estão felizes com o sistema atual. Essas três empresas representam uma parcela de 75% da receita na indústria de música gravada do Reino Unido e cerca de 66% em todo o mundo.

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3. Como o dinheiro sai do Spotify?

US$ 5 bilhões deixaram o Spotify e foram para os detentores de direitos em 2020. A próxima pergunta é: como o Spotify determina qual proporção da receita é paga a cada detentor de direitos? Todo mês, em cada um de seus principais mercados, o Spotify calcula o número total de streams. Em seguida, eles calculam, para todos os artistas transmitidos nesse mercado, a porcentagem do número total de transmissões que eles tiveram. Assim, eles pagam qualquer que seja essa porcentagem de royalties ao detentor dos direitos correspondentes.

Por exemplo, se um artista no Brasil for transmitido 1 vez a cada 1.000 streams, ele receberá 1/1.000 de cada dólar de receita desse mercado. Isso é chamado de sistema “streamshare”.

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Existem alguns problemas potenciais com este sistema – que inclusive tem sido amplamente criticado. Por exemplo, imagine que você é da França e ouve house music. 95% de seus streams são de artistas como Kerri Chandler, Floorplan etc. Seus hábitos de escuta não são refletidos nos pagamentos do Spotify ao detentor dos direitos. Por exemplo, 95% da sua assinatura não vai para Kerri Chandler ou Floorplan, mas é colocada no pool de receita e depois dividida com base em seu sistema de streamshare, com uma parte considerável de sua assinatura indo para os artistas mais populares, como JUL ou Damso.

A empresa afirma que a pesquisa sobre modelos de pagamento centrados no usuário, em que sua assinatura é paga proporcionalmente à quantidade de tempo que você gasta transmitindo artistas específicos, não é conclusiva. O Spotify abordou a questão via Loud & Clear, dizendo que “A pesquisa que vimos até agora sugere que uma mudança para pagamentos centrados no usuário não beneficiaria os artistas tanto quanto muitos esperavam originalmente – um estudo do National Music Center (CNM) descobriu que a mudança resultaria em “no máximo alguns euros por ano, em média” para artistas fora do top 10.000. ” Eles também sugerem que é necessário “alinhamento amplo da indústria ” para implementar uma mudança.

A Deezer, concorrente do Spotify com sede na França, já implementou a mudança para pagamentos centrados no usuário. É difícil ver o que exatamente o Spotify quer dizer com isso, já que a mudança pode vir diretamente deles e da forma como dividem a receita sem o envolvimento de terceiros. É bem provável que eles estejam preocupados com a pressão de agências terceirizadas com medo de perderem dinheiro com a mudança. Também parece estranho que o Spotify, famoso pela forma como abraçou o uso de seus dados em suas práticas, não tenha divulgado nada sobre simulações internas que certamente poderiam ter sido realizadas, mas citam pesquisas de terceiros (que não possuem acesso ao banco de dados do Spotify) sobre a sua própria plataforma.

 

4. Estatísticas do Loud & Clear

Inicialmente, a estatística interativa apresentada no Loud & Clear é aquela que fornece um valor fixo de receita e permite verificar o número de artistas na plataforma cujos catálogos estão gerando um determinado valor ou mais.

As estatísticas estão representadas graficamente abaixo. Na parte inferior do gráfico temos o ano, enquanto a altura de cada barra representa o número de artistas cuja receita ultrapassa o rótulo da barra. Portanto, a barra de cor salmão significa que, em 2020, 184.500 artistas geraram receita acima de US$ 1.000. Existem 2 gráficos, pois a escala é bem diferente para os dois conjuntos de resultados (apenas 840 artistas geraram receita acima de US$ 1 milhão, enquanto 185.000 artistas acima de US$ 1 mil).

Fonte: Loud & Clear pelo Spotify

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Estatísticas: número de artistas/número de streams por ano

Um ponto positivo é que o número de artistas cujos catálogos estão ganhando mais de $ X está crescendo ano a ano , o que significa que mais artistas estão começando a ganhar dinheiro a cada ano que passa e talvez estejam progredindo na plataforma. Pode-se imaginar que aqueles que entram na faixa de US$ 1 milhão provavelmente teriam vindo da faixa de US$ 500 mil.

Portanto, o que é surpreendente é quão poucos artistas estão ganhando um salário de vida com streaming quando fazemos uma análise mais detalhada. Para ilustrar um caso concreto, vamos pegar o grupo de artistas cujo catálogo gera mais de US$ 50 mil. Na melhor das hipóteses, o artista é independente e só tem que pagar uma parte desses US$ 50 mil ao seu distribuidor (a agência que colocou suas músicas no Spotify), o que hoje em dia é muitas vezes pouco devido ao surgimento de distribuidores online e práticas como a DistroKid. Por exemplo, podemos imaginar um caso muito pior e mais comum, onde uma gravadora receberá 50% diretamente (esta é uma taxa muito comum com grandes gravadoras – muitas vezes podendo chegar até 70-80%), sem mencionar o valor a ser pago pelo envolvimento de potenciais distribuidores, editores, etc.

Como citado acima, os artistas em média no Reino Unido levaram para casa apenas 16% da receita gerada na indústria da música gravada, então claramente há coisas ainda piores em situações imagináveis. Imagine o cenário de 16%. Isso corresponderia a cerca de US$ 8.000 por ano para aqueles na faixa de US$ 50.000. No grupo de mais de 100 mil, seria $ 16.000. Para se ter uma ideia, existem apenas 7.800 artistas gerando mais de US$ 100 mil no Spotify, ou cerca de 0,1% de todos os artistas no Spotify.

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Para contextualizar melhor, podemos usar uma ferramenta disponível no Loud & Clear. Ela permite que você obtenha uma estimativa de onde um artista estará no top-X de artistas, considerando uma contagem mensal de ouvintes. Por exemplo: 750.000 ouvintes mensais colocariam você entre os 9.000 maiores artistas no Spotify de acordo com o Loud & Clear. Presumivelmente então, dado o que foi discutido acima, isso geraria cerca de US$ 100 mil antes de ser dividido entre as várias agências envolvidas na gravação (o selo, o artista, o distribuidor etc.). Este é um número muito grande de ouvintes mensais, dificilmente alcançável para a maioria dos artistas independentes – existem mais de 8 milhões de artistas no Spotify. Esperar alcançar um salário mínimo na plataforma é estar entre os 9.000 melhores artistas de 8 milhões e, em alguns casos, isso corresponde a pouco menos do salário mínimo sendo filtrado para o artista. Uma estatística bastante chocante.

Agora imagine o caso das bandas, onde a divisão dos artistas tem que ser subdividida entre os membros da banda. Parece sem esperança. Mas quem é o responsável? A partir de nossos cálculos aqui, parece que pode realmente, até certo ponto, estar fora das mãos do Spotify e de terceiros, como gravadoras.

 

5. Os diferentes tipos de artistas no Spotify – de acordo com a Loud & Clear

A Loud & Clear também nos apresenta vários tipos típicos de perfis no Spotify, e dá a receita média gerada por cada tipo de perfil. Temos os The Established, ou aqueles artistas que são consistentes com seus lançamentos, chegando entre os 50.000 melhores artistas por 3 anos consecutivos. O número médio de ouvintes mensais deles é de cerca de 600 mil e a receita média gerada por eles é de US$ 94 mil por ano. Há cerca de 34.000 deles.

Além desse últimos, existem os outros perfis, como The Specialist, que corresponde a artistas com mais de 25.000 ouvintes mensais e com 90% de sua música caindo em gêneros de nicho como trilha sonora, easy listening, religioso, música infantil e música clássica. Eles podem esperar US$ 36.900 por ano e têm, em média, 214 mil ouvintes mensais.

Essa análise é interessante e mostra algumas outras maneiras de ter sucesso na plataforma que não são apenas a ideia de “assinar para uma grande gravadora e ficar no topo das paradas”.

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6. Panorama do streaming para os artistas

Podemos concluir que é difícil ganhar a vida na era do streaming. Tudo o que podemos dizer foi estabelecido e pode ser facilmente visto graças ao Loud & Clear. O Spotify é totalmente responsável? Não. Eles tiveram um enorme impacto na indústria da música em geral , desencorajando a pirataria e, junto com seus concorrentes, tirando a indústria da música de uma baixa histórica em 2014 (receita total de US$ 14 bilhões na indústria) para números próximos de seu pico em 1999 por US$ 25 bilhões.

Eles democratizaram a indústria da música reduzindo as barreiras de entrada. Um artista não precisa mais de um grande orçamento e uma gravadora para colocar o pé na porta, eles podem tomar sua carreira em suas próprias mãos. 90% dos streams mensais no Spotify vêm de 57.000 artistas. Este é um número que quadruplicou em 6 anos, o que significa que a plataforma está se tornando mais diversificada, com um número maior de novos artistas representando o tempo de reprodução na plataforma. Porém, não se foi dito nada sobre a proporção de artistas que são independentes. Só podemos esperar que sua participação também esteja aumentando.

No entanto, há muitos espaços de melhoria a serem feitos para melhorar a igualdade e a receita paga aos artistas. Uma coisa óbvia para tentar seria um sistema de pagamento centrado no usuário ou talvez um aumento de preço. Eles comentam que um aumento de preço já foi realizado em alguns mercados e que, como “60% de nossos usuários de nível premium já foram de nível gratuito ”, um aumento de preço é um “equilíbrio fino”, pois eles não desejam gerar novos clientes longe de se tornarem assinantes.

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Alguns críticos observaram que o Spotify, como plataforma, é semelhante ao rádio no sentido de que existem seleções de música pré-selecionadas (os Daily Mixes, por exemplo) com as quais o usuário se envolve da mesma maneira que eles fazem quando ouvem a rádio. Eles selecionam a estação de rádio (ou no Spotify, a lista de reprodução) e a música selecionada é transmitida para eles.

Dessa forma, esses críticos argumentam que o Spotify deveria ter que pagar da mesma forma que outras emissoras, e que eles deveriam ter que usar um sistema de remuneração equitativo; um sistema pelo qual a qualquer momento em que a música de um artista é transmitida (em uma apresentação pública, transmitida no rádio..), o artista deve ser compensado com um pagamento a uma sociedade de cobrança (como BMI, ASCAP, PLL etc.), que então repassará o pagamento ao artista. Esse sistema coloca um pouco mais de poder nas mãos dos artistas, pois é a sociedade de cobrança que pode negociar a taxa de remuneração equitativa com as emissoras.

Atualmente, os artistas efetivamente não têm poder para negociar seus pagamentos nas plataformas de streaming. Essas empresas não são obrigadas por lei a usar esse sistema, mas é difícil entender por que não deveriam. É difícil negar a semelhança com o rádio que o Spotify pode ter, especialmente considerando seus novos recursos como o Daily Drive (uma mistura de notícias e música), que o torna basicamente em uma rádio. O Spotify afirma seu compromisso em ajudar os artistas a alcançar o sucesso em sua plataforma e afirma que eles “estão maximizando a receita geral” e, portanto, os pagamentos aos detentores de direitos. Este problema não foi abordado diretamente no Loud & Clear.

Uma coisa é certa, se os artistas devem ser remunerados de forma justa por seu trabalho, não são apenas as plataformas de streaming que precisam mudar sua política, mas também as gravadoras e outras agências de terceiros. Enquanto os artistas só podem esperar uma divisão de 13 a 20% dos royalties das principais gravadoras (lembrete: elas representam cerca de 66% da receita da indústria da música), é difícil culpar apenas o Spotify. Levando em consideração que as 3 maiores gravadoras (Sony, Universal, Warner) possuem cerca de 13% de participação no Spotify, seria difícil não vê-los fazendo pressão contra qualquer política que reduza o valor que o Spotify representa para eles.

O streaming é justo? Não exatamente, mas não são apenas as plataformas de streaming que precisam mudar para que os artistas sejam compensados ​​​​de forma justa. 

– Texto traduzido por Thiago Cyrino –

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