Nesta segunda entrevista da série “Bate-papo com influenciador”, na qual buscamos entender mais sobre o papel que dos influenciadores da música, a Groover teve o privilégio de conversar com Pedro Antunes, colunista musical do Uol e ex-editor-chefe da Rolling Stone. Ele nos contou um pouco mais sobre sua trajetória profissional, sua passagem pela Rolling Stone, sua visão sobre os artistas emergentes e as mudanças do mercado, além de sua experiência enquanto influenciador na Groover. Pedro Antunes perpassa a música independente e o mainstream e é hoje considerado um pilar do jornalismo musical brasileiro. Acesse o seu perfil na Groover clicando aqui!
[…] ele vai lá, me procura na plataforma, me manda sua música, e eu automaticamente vou ouvi-la. É uma conexão muito direta e você não fica preso a um e-mail ou a uma mensagem que nunca chegou. A Groover pra mim é incrível por isso!
– Pedro Antunes
1. Pedro, você tem um nome no cenário musical independente enquanto jornalista e duas passagens pela Rolling Stone. Você poderia nos contar um pouco mais sobre a sua trajetória profissional?
A minha carreira profissional já está beirando os 15 anos. Eu vou contar rapidamente algumas momentos dela. Me ajudou muito ter começado como um repórter de esporte no jornal LANCE!, justamente por ter que me virar fazendo entrevistas fora da caixinha com jogadores de futebol que estão acostumados a responder sobre o chute, sobre o gol…acho que isso me abriu um lugar muito legal para experimentar. Trabalhando também em São Paulo, no Jornal da Tarde, que morreu há alguns anos, também me deu a oportunidade de experimentar como setorista de música. Eu tinha zero experiência com isso e puder fazer isso em um jornal que dava espaço para tentativas.
Tenho duas passagens pela Rolling Stone que são importantíssimas pra minha vida: uma como repórter por dois anos e outra como editor-chefe por mais dois anos. Nesse meio tempo, entre as duas passagens na Rolling Stone, eu fui repórter de música do Estadão, crítico de música e de cultura pop. Acho que é isso! Meu resumo dos últimos 15 anos foi trabalhar com esporte, trabalhar no Jornal da Tarde, passar pela Rolling Stone como repórter e conhecer muita gente boa, virar setorista de música do Estadão (que é um dos maiores jornais do país e crítico de música ali) por 5 anos, e depois voltar pra Rolling Stone como editor-chefe. Hoje eu sou colunista do Uol Splash que é o canal de cultura do Uol, onde eu falo de música com um público mais popular, eu digo popular no sentido de muita gente acessando, de música popular brasileira e de tudo que faz minha cabeça. É isso!
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2. Na sua opinião, quais foram as principais mudanças no mercado musical brasileiro nos últimos anos?
Eu acho que o fim do imperialismo da grande mídia. Ela não é mais tão relevante e importante para que um artista aconteça/exista e tenha sua base de fãs. A pulverização da informação e a pulverização de seu consumo por meio das redes sociais, por veículos independentes cada vez maiores, pela existência dos influenciadores de música, enfim, a pessoa não precisa mais ler o jornal da cidade ou assistir na Globo pra saber o que está rolando de música. Ela consegue saber em muitos lugares! Isso mudou o jogo.
Junto também, das plataformas de streaming, que colocaram os artistas numa posição de produtor de conteúdo. Além de produzir a música dele, ele também precisa produzir conteúdo para as redes sociais pra alimentar a base de fãs que eles têm nessas plataformas digitais. As plataformas digitais também mudaram o jogo, se a pessoa não compra mais disco e ela tem tudo na tela de celular, como que ela saber o que vai ouvir? Isso faz com que o artista tenha que se mexer mais no sentido de precisar produzir muito.
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O single voltou com tudo nos últimos dois, três anos por conta disso. Antes era a música de trabalho, que não necessariamente saia antes do álbum, ela era a música que tinha alta rotação nas rádios. Primeiro é faixa três, depois é a faixa cinco…ela servia pra manter o álbum em rotação nas rádios. Agora não, se o cara só lançar single, ele vai estar feito também, se o single for bom claro hahaha. Ou, se ele também conseguir chegar nas playlists certas das plataformas.
O artista foi colocado em um lugar em que precisa ser muito ativo em lugares diferentes. Ele precisa sim estar em contato com influenciadores, com as plataformas e principalmente com seu público nas redes sociais. Ele precisa estar entregando esse conteúdo. Ficou difícil ser artista, eu brinco. Não é pra deixar ninguém desmotivado na verdade, é pra motivar. Agora o artista é dono de toda a sua narrativa. Isso pode ser bom, mas vai exigir bastante do artista.
3. Como você enxerga o papel dos influenciadores da música e dos profissionais que integram o mercado no cenário independente de hoje?
Eu acho que a gente tem o papel de vasculhar dentro dessa enorme produção musical mundial, brasileira, artistas que comunicam com um determinado público. Eu gosto de pensar que é tipo uma antena parabólica. A gente fica recebendo tudo! E fazemos essa curadoria para que a música certa chegue na pessoa certa. Acho que esse é o nosso papel hoje: ajudar a disseminar a música boa. O cara pode estar lá no interior do Pará e pode fazer um som que vai ser incrível para um guri solitário do Rio Grande do Sul. A nossa função é meio que essa. É tentar fazer essa conexão.
4. O que na sua opinião faz um artista se destacar dos outros?
Eu acho que o artista hoje precisa ser multiplataforma. Quando eu falo multiplataforma, é porque ele precisa conseguir engajar muito bem com sua base de fã. Antes o artista não tinha contato com o fã. A não ser em um show ou pós-show, pensando nos anos 80, 90, aonde esse artista conhecia esse fã. Era muito difícil isso acontecer, eram poucos. Agora não, um artista que começa com 300 seguidores, 30 pessoas vão ouvir ele demais, carregá-lo e ser o porta-voz dele nas redes sociais que vão ajudá-lo a crescer.
O artista precisa entender que ele deve ter um contato muito mais próximo com o seu público, conhecer a pessoa pelo nome, saber o que a pessoa gosta, conhecer o que elas gostam do seu trabalho. É uma troca completamente diferente. A comunicação do artista pro fã passava por uma matéria no jornal, ela passava em uma entrevista na MTV…O artista que se destaca hoje é aquele que se comunica muito bem com o seu fã. Eu vejo umas cantoras de música pop que são incríveis nisso, tipo Day, Carol Biazin, Elana Dara. Enfim, são gurias que tem uma base de fãs que vai chegar nos influenciadores da música e vão ficar mandando mensagem “ouça fulana, ouça fulana, ouça fulana!”, que vão engajar quando essa pessoa entrar em uma live.
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É um mundo totalmente a parte do que aquele que estávamos acostumados pra quem veio do jornalismo, de um entendimento do mercado fonográfico, das gravadoras, do mundo físico, sem o mundo virtual. O artista que consegue se comunicar com seu público e entender cada pessoa que for chegando, quem cria esse senso de comunidade ao entorno de sua música, ele tá feito. Claro que precisa ser bem produzido, essas coisas básicas precisa ter. Eu acho que todo artista devia ter um melhor amigo sincerão porque seria bem-vindo, eu acho que nem todo mundo é gênio. Eu não sou um gênio do jornalismo, da escrita ou coisa do tipo. As pessoas precisam entender e receber esses feedbacks, e tentar encontrar a sua linguagem sem perder a sua essência, mas encontrar uma linguagem que se comunique com os outros. Esse amigo sincerão seria bom, mas o principal é ser capaz de criar um senso de comunidade ao entorno da sua própria música e seus fãs.
5. Se você pudesse dar algumas dicas para pequenos artistas começando as suas carreiras, o que você diria?
A primeira coisa é: não salte etapas. Não tente chegar na Rolling Stone ou no Estadão com seu primeiro single. Entenda que você ainda tem muito chão pra percorrer, pra ter história pra contar, para que sua música seja também seja aprimorada. Pense na sua carreira passo por passo, conquista por conquista, fã por fã que chegar na sua rede social pra conversar contigo.
O artista que se diferencia é aquele que cria um senso de comunidade entorno da sua música porque ele faz com que todas as pessoas que tão seguindo ele, pessoas próximas, fãs que estão interagindo, se sintam parte desse time. Esse senso de comunidade é muito importante pra que esse artista cresça. Crie isso desde o começo, faça com que as pessoas que são seus fãs, sejam as melhores porta-vozes que você pode ter, nas redes e em todos os lugares. Quando soltar uma música, elas vão compartilhar, então, interaja com ela, seja próximo dessas pessoas, isso vai fazer muita diferença pro artista.
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Quando eu falo um passo de cada vez quero dizer: entenda a tua jornada, quem é teu público exatamente, não tente emplacar em um site x sendo que teu público não está acessando aquele site x. Não tente chegar logo nas alturas porque mesmo se você chegar nas alturas, o grande consumidor de informação da música mudou e a sua curiosidade não é mais sanada por um texto. Ela é agora, sanada por uma playlist, por algum lugar que ele ouve teu som sem saber que ele está te ouvindo, ele vai gostar e depois verá quem é. Eu vejo muita gente querendo sair logo na Rolling Stone Brasil por exemplo, sendo que nem sempre esse é o melhor lugar pra você naquele momento. Porque talvez aquele texto na Rolling Stone não vai trazer pessoas pra te ouvir. Ela vai ser importante pra outras coisas, pra você se sentir referendado, mas tenha calma, nenhuma carreira brota do nada. E, ela vai ter o tamanho dela, que é orgânico.
A gente não consegue comprar esse crescimento. A gente precisa trabalhar com o que a gente tem e olhar pros números que a gente tem e valorizar esses números que a gente já tem. Sem saltos megalomaníacos. É isso que eu falo pra todo artista novo.
6. Quais foram as suas descobertas nacionais favoritas na Groover? Além disso, qual é o seu estilo de música que você mais gosta de receber na plataforma?
Eu recebo muita coisa na Groover e eu acho isso fantástico! Muita coisa! Eu já recebi desde que eu comecei, acho que 420 músicas. Isso é bastante coisa! Tem muito artista que me interessa. Eu gosto muito de ouvir artista brasileiro, de fora, canadense, francês, é embasbacante ver quanto artista novo está criando coisas incríveis. Acho que eu tive uma experiência muito boa com Álec, que inclusive saiu em uma entrevista com ele na Rolling Stone. Tem um grupo que eu gosto muito que chama Sopru, e lançou uma música chamada “Desconforto”, melancólica, dentro do que é ser jovem hoje. São essas coisas que me interessam quando eu estou ouvindo os artistas na Groover. É de quem está descontente, o desconforto com o hoje, a inquietude e a vontade de mudar. Eu acho que isso me encanta toda vez que eu entro na plataforma e quero descobrir quais são os artistas novos que tão aparecendo ali pra mim.
| Álec integra HOTLIST da Rolling Stone Brasil depois de usar a Groover (leia a entrevista clicando aqui)
7. Como está sendo a sua experiência na Groover?
Só dando aspas no lugar certo, a minha experiência na Groover têm sido interessante, eu gosto da pluralidade de sons que eu recebo por lá. Eles sempre me tiram da zona de conforto: indie, guitarrístico, seja uma coisa regional, dos bálcãs. Eu tenho um perfil muito aberto a receber todo tipo de som, é isso que me move, e a Groover dia após dia vai me mandando as notificações dizendo que tem música nova. Eu corro logo pra ouvir, justamente por essa curiosidade de entender o que tá fazendo aquele cara do interior do Canadá ou aquela pessoa do sul da França, ou aquela banda do Pará. Ou, o que está escondido em algum canto da Amazônia, ou de uma banda de São Paulo, que de repente minha vizinha não conhecia. Acho que a possibilidade de conexão tão direta e sem barreira que a Groover promove entre o artista e o influenciador/curador, no caso eu, é fantástica!
8. Em quais aspectos você acredita que a plataforma possa ajudar os artistas independentes?
Eu acho que a Groover oferece pontos importantes: oferece um feedback sincero e honesto para os artistas. E por que isso é importante? O primeiro single que o artista pode ter criado na vida, décimo quarto single ou décimo quinto álbum, nem sempre pode ser bom. É interessante ter alguém que tenha cuidado e carinho de ouvir e dizer ao artista o que pode ser melhorado: a garantia de você ter um feedback, ou seja, de que talvez aquilo não seja bom. A gente está viciado em um sistema de que a gente faz a música onde pra gente ela está muito boa e não sabemos como ela vai ser recebida por ouvidos especialistas. Isso pra mim é essencial!
Eu acho que ela faz uma conexão direta entre o artista e os formadores de opinião/influenciadores/curadores, que ultrapassa barreiras mercadológicas de precisar do e-mail, de um assessor de imprensa com boa entrada que tem o whatsapp do jornalista, sabe? Essa burocracia que ainda existe e que é boa também, mas é um outro mercado, é atropelada por uma plataforma como a Groover, que coloca o artista diretamente conectado comigo. Ele vai lá, me procura na plataforma, me manda sua música e eu automaticamente vou ouvi-la. É uma conexão muito direta e você não fica preso a um e-mail ou uma mensagem que nunca chegou. A Groover pra mim é incrível por isso!
– Bate-papo com influenciador é desenvolvido por Thiago Cyrino e Max Leblanc –